Comentar
Todos nós temos preconceitos, ou seja, conceitos ou opiniões formados antecipadamente sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéias preconcebidas; segundo as lições de Aurélio Buarque de Holanda.
Apesar do meu conhecimento jurídico, eu tinha os meus preconceitos com relação à adoção, mas DEUS me possibilitou ter uma experiência concreta a respeito, uma experiência maravilhosa.
Acredito que a primeira barreira a ser vencida é saber aceitar e conviver com as diferenças, quase sempre inevitáveis num processo de ADOÇÃO.
Isso porque, como indivíduos, possuímos características particulares, físicas e psíquicas, herdadas dos nossos pais biológicos, e com a adoção, inevitavelmente, esse elo se rompe.
Muitas vezes, tais diferenças são visíveis e a nossa sociedade ainda não se acostumou a aceitá-las.
Quem é que nunca pensou como seriam os filhos? Teriam os olhos da mãe... o cabelo do pai... o gênio do avô... ou seja, aquelas características que mais admiramos. E eu até queria que o meu filho tivesse o meu nome.
Por isso, a maioria dos casais pretende adotar crianças com as suas características físicas, mas será que isso é realmente importante?
DEUS me fez ver que tudo isso não tem a menor importância, não passando de pura vaidade...
Pois bem, como tudo isso aconteceu...
Eu e a minha esposa completamos este ano 17 anos de convivência: dez anos de casados e sete entre namoro e noivado. Quase duas décadas de união e de muito amor, graças a DEUS. Logo após o enlace, passamos a fazer inúmeros planos: viagens, cursos de especialização, aquisição de casa própria, etc. Equivocamente, deixamos os filhos para depois...
Certo dia, a casa quase pronta, diversos cursos já realizados, inúmeras viagens efetivadas, idade já chegando, começamos então a pensar objetivamente em nossos filhos...
Eu nunca havia cogitado em ter filhos adotivos. Não conseguia admiti-los em meus planos. Confesso e tenho até vergonha de dizer isso: temia não conseguir amá-los como aos meus filhos biológicos... Tinha medo do que as pessoas falariam... Dos questionamentos indevidos... Das reações futuras... etc. Hoje vejo que tudo isso não se passava de puro preconceito e de meras vaidades, pois o ser humano possui uma capacidade quase inimaginável de amar.
Já a minha esposa sempre teve vontade de adotar uma criança, além dos filhos biológicos que certamente viriam.
Tentativas frutadas, e após inúmeros exames e consultas, recebemos o diagnóstico: dificilmente teríamos filhos biológicos. Sugeriram, então, fertilização, doação de óvulo, doação de esperma, barriga de aluguel, etc.
Rezamos muito e chegamos a uma conclusão: esses métodos artificiais não estão no projeto de DEUS, e me perdoem os que pensam em contrário.
A sensação após recebermos o diagnóstico médico foi como se tivéssemos perdido os filhos que sempre imaginávamos que iríamos ter: aqueles rostinhos que ficam em nosso imaginário. Foi uma sensação de perda indescritível, algo difícil de explicar. Somente quem já passou por tal situação é que consegue dimensionar o luto que tal conclusão nos remete, mas, felizmente, não perdemos a FÉ, as nossas orações aumentaram e passamos realmente a colocar DEUS como o centro de nossas vidas.
Chegamos, entrementes, à outra triste conclusão: aguardamos muito tempo para pensar em filhos biológicos.
Cheguei mesmo a pensar se realmente DEUS queria que tivéssemos filhos, esquecendo-se das lições do catecismo outrora recebidas: DEUS une o homem e a mulher em uma só carne para que tenham filhos...
Aguardávamos, então, pelo milagre da concepção, eis que não havíamos chegado a um consenso a respeito da adoção, diante dos preconceitos não superados.
Mas esperaríamos até quando?
Nisso, durante uma novena a NOSSA SENHORA, surgiu uma situação de abandono nesta cidade e acolhemos uma criança em nossa casa.
Ela tinha nascido prematura, com pouco mais de seis meses de gestação, filha de pais alcoólatras e que precisava de cuidados especiais.
Não existia e ainda não existe até hoje abrigo em Dores do Indaiá. A criança já tinha permanecido na residência de vizinhos e do Presidente do Conselho Tutelar, os quais me procuraram e disseram que já tinham prestado, dentro de suas possibilidades, as suas contribuições.
Aceitamos, então, o desafio de acolhê-la em nossa casa até que os pais biológicos pudessem recebê-la de volta; algum parente próximo se interessasse pela guarda; ou se completasse o processo de destituição do poder familiar.
Não sabíamos, até recebê-la, se a criança era branca, parda ou negra. Sabíamos apenas que ela precisava de cuidados, de acompanhamento médico freqüente em razão da probabilidade de síndromes - como a síndrome alcoólica fetal -, de alimentação equilibrada e de estímulos adequados.
Foi amor à primeira vista, apesar das diferenças físicas.
Quando a vi pela primeira vez deitada na cama do meu quarto, aquela criança pequenininha e indefesa, meus olhos se encheram de lágrimas e brotou no meu coração o amor maior daquele que eu já havia experimentado na vida. Algo que somente quem é pai ou mãe pode descrever.
Senti, naquele momento, que DEUS havia nos entregue a nossa filha esperada, mas o meu racional alertava que tudo não se passava de uma situação transitória, diante das circunstâncias que cercavam o caso.
Esvaíram-se, naquele momento, todos os meus preconceitos com relação à adoção. Senti, no fundo do meu coração, que o amor é maior do que qualquer diferença física ou psíquica, e que pode superar qualquer obstáculo, qualquer que seja.
De forma inexplicável, meses depois, os pais biológicos, espontaneamente, entregou-nos a criança como filha, para adoção.
Senti, naquele momento, um misto de alegria e de tristeza. ALEGRIA por poder acolhê-la como filha; e uma profunda TRISTEZA pela incapacidade dos pais biológicos em criá-la.
Tempo depois, o processo de ADOÇÃO se concretizou.
MICAELA, esse é o seu nome, nome dado por seus pais biológicos, e que o mantivemos. MICAELA deriva de MIGUEL, nome do anjo que anunciou JESUS a MARIA.
Hoje ela tem hoje 2 anos e 6 meses, encontra-se muito saudável e cheia de vida, e foi fraternalmente acolhida por nossas famílias e por todos os nossos amigos.
MICAELA não se parece fisicamente conosco e enfrentamos com naturalidade as indagações a respeito, sem constrangimentos e nenhuma dor.
Ela foi, seguramente, o maior presente que Deus poderia ter nos dado, além de nossas próprias vidas: MICAELA é a presença de DEUS vivo dentro de nossa casa.
Até então, nunca havido pensado que o próprio JESUS, aqui na terra, foi adotado por JOSÉ.
E todos nós somos seus filhos adotivos.
E adotar não é nenhum ato de caridade. É muito mais, é aceitar o nosso irmão como filho de DEUS, é acolher e tentar amar o semelhante como DEUS nos ama.
Ainda não perdemos a esperança de ter filhos biológicos, e pensamos, também, em adotar outras crianças.
Dores do Indaiá, 22 de maio de 2010.
Demetrius Messias Gandra e Flávia Batista Gandra
Já tenho um filho ,mas adoraria adotar outra criança .
Só que a lei não ajuda muito é muita burocracia ,se muitas pessoas adota-se uma criança não existiria tanta criança abandonada neste país tão lindo.
Adicionado por Carlos José e Silva Fortes
Adicionado por Carlos José e Silva Fortes
© 2024 Criado por Carlos José e Silva Fortes. Ativado por
Você precisa ser um membro de Casé Fortes para adicionar comentários!
Entrar em Casé Fortes