PEDOFILIA – CONSIDERAÇÕES ATUAIS
Giancarlo Spizzirri
Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Introdução
A pedofilia é um distúrbio psiquiátrico, classificado como um transtorno de preferência sexual pela Classificação Internacional das Doenças na sua 10ª edição (CID-10)1 ou uma parafilia pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais 4ª Edição (DSM-IV-TR).2 Caracteriza-se por comportamentos, fantasias e/ou pensamentos sexuais recorrentes, intensos e sexualmente excitantes, por período igual ou superior a seis meses e que envolvam pessoas de até 12 anos de idade. Alguns pedófilos são atraídos por meninas apenas, outros apenas por meninos e outros se interessam por ambos os gêneros. É uma condição crônica que geralmente se inicia na adolescência e persiste ao longo da vida, sendo mais frequente em homens do que em mulheres.
A pedofilia é um tema controvertido. Pedófilo seria aquele indivíduo que tem atração sexual exclusivamente por crianças. Alguns autores classificam esse tipo como “permanente”. Também há aqueles que apresentam esses sintomas quando estão diante de situações estressantes, sendo considerados do tipo ‘regressivo’. Há, também, aqueles que molestam crianças sem fins estritamente sexuais.
Em nossos dias a pedofilia, mais do que nunca, constitui fonte de grande preocupação em diversos segmentos da sociedade. Para vencer esse grande desafio, maior conhecimento sobre etiologia, quadro clínico e tratamento se faz necessário.
Etiologia – considerações atuais
A etiologia desse distúrbio permanece pouco esclarecida. Pesquisas atuais, entretanto, apontam alterações neurológicas, hormonais e psicodinâmicas envolvidas nessa gênese, como salientamos a seguir:
a) Fatores neurológicos
Diminuição considerável do volume e da massa cinzenta da amídala direita, do hipotálamo bilateral, das regiões septais, da substância innominata e do núcleo da estria terminal foi observada em pedófilos e pode refletir alterações ou agressões do ambiente, em períodos críticos do desenvolvimento psicossexual.
Observou-se também que pedófilos apresentam diminuição do volume da massa cinzenta do núcleo estriado ventral (estendendo-se ao núcleo accumbens), do córtex orbitofrontal e do cerebelo. Essas observações indicam associação entre anormalidades da morfometria fronto-estriatal e pedofilia.
Quando se comparam indivíduos com interesses sexuais heterossexuais com parafílicos, verificam-se alterações eletroencefalográficas em diferentes áreas corticais, como reação à estimulação erótica visual. Aumento anormal do ritmo alfa e diminuição da atividade em áreas frontais também foram observados em pedófilos quando estão na presença de crianças.
A ressonância magnética funcional de pedófilos revela que diversas regiões cerebrais são ativadas ou inibidas, durante a estimulação erótica visual. Há evidências de que o lobo frontal occipital superior e o fascículo arqueado conectem as regiões corticais da resposta à estimulação sexual, indicando que aquelas regiões corticais operam como uma rede no reconhecimento dos estímulos sexuais relevantes e que a pedofilia resulta de uma desconexão parcial desta rede.
b) Fatores hormonais
Observa-se aumento dos níveis de testosterona, especialmente naqueles pedófilos que apresentam conduta agressiva. Também se tem evidenciado maior índice de hormônio luteinizante em pedófilos, quando comparados com parafílicos não pedófilos e não parafílicos, o que indica uma disfunção no eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal.
Maiores níveis de prolactina foram identificados numa amostra de 528 homens criminosos sexuais, entre eles, os pedófilos.
c) Aspectos psicodinâmicos
História de abuso sexual e/ou emocional na infância é recorrente e contribui para a compreensão das causas da pedofilia: as primeiras experiências ou fantasias sexuais, sejam gratificantes ou não, podem influenciar comportamentos futuros.
Pesquisas atuais indicam que parafílicos (entre eles os pedófilos) e criminosos sexuais advêm de famílias mais numerosas e seus pais tendem a serem mais velhos na ocasião de seus nascimentos.
Diagnóstico
O diagnóstico da pedofilia está fundamentado na história e no exame psíquico do paciente, destacando-se os diversos aspectos da anamnese sexual. Investigação recente concluiu que a utilização de pornografia infantil é um forte indicativo de que o usuário poderá molestar crianças sexualmente.
Cogita-se associação entre pedofilia e transtornos da personalidade, entretanto, não há alteração que seja diagnóstica e que caracterize todos os casos.
Tratamento
A administração de antidepressivos tricíclicos ou inibidores seletivos da recaptação da serotonina (fluoxetina, principalmente) em altas doses é amplamente citada na literatura como recurso terapêutico relevante. Acompanhamento psicoterapêutico individual e/ou grupal é essencial no acompanhamento dessas condições.
Novas possibilidades de tratamento estão sendo pesquisadas e aplicadas, como a utilização de hormônios antiandrogênicos e o acetato de leuprolida, preferencialmente em pacientes pedófilos abusadores sexuais.
INFORMAÇÕES
Endereço para correspondência:
Giancarlo Zpizzirri
Projeto Sexualidade (ProSex)
Rua Ovídio Pires de Campos, 785 — 4º andar
São Paulo (SP) CEP 01060-970
Tel. (11) 3069-6982
E-mail: giancki@uol.com.br
Adicionado por Carlos José e Silva Fortes
Adicionado por Carlos José e Silva Fortes
© 2024 Criado por Carlos José e Silva Fortes. Ativado por
Você precisa ser um membro de Casé Fortes para adicionar comentários!
Entrar em Casé Fortes