FAMÍLIAS INCESTUOSAS - Texto: Raquel Ayres | Fotos: Alberto Wu, Arte Paulo Werner


Famílias Incestuosas

O pacto de silêncio é a grande barreira para se revelar os horrores que acontecem em núcleos familiares com a presença de pais abusadores. É uma realidade que não possui números, estatísticas ou rostos


Texto: Raquel Ayres | Fotos: Alberto Wu, Arte Paulo Werner



Uma família de classe média baixa moradora da região Noroeste de Belo Ho­rizonte. Sete filhos, o oitavo está a caminho. A mãe tem pouca ascendência sobre o grupo. O pai costuma levá-las ao parquinho. A
cena seria corriqueira se não fosse um detalhe cruel: seis das crianças
sofreram abuso sexual pelo pai, inclusive a caçula, de 1 ano e 4 meses. Entre
as práticas, estava a de enfileirar os filhos nus e jogar-lhes jatos de água
fria. Numa outra ponta, fruto de família abastada, está a americana Mackenzie
Philips, 49 anos. Em 2009 lançou sua biografia, High on Arrival,
contando que manteve, por 10 anos, relações sexuais com o pai, John Philips,
líder, nos anos 60, da banda The Mamas & The Papas (é deles o hit Ca­lifórnia
Dreamin). Mackenzie foi viciada em drogas, inclusive presa em 2008 por porte de
heroína. Chegou a engravidar e abortar do próprio pai.


Ambos os casos, assim como um sem-número de outros, compõem o cenário das chamadas famílias incestuosas, onde impera uma regra: o silêncio. Ao contrário de casos
em que pai, mãe, madrasta e padrasto que abusam da prole ou de enteados são
denunciados à Jus­tiça pelo cônjuge, nos núcleos incestuosos forma-se pacto em
torno do qual se constitui segredo tumular a respeito das relações eróticas
estabelecidas.


“Muitas vezes não há denúncias porque as crianças são ameaçadas de que algo ruim aconteça, como o provedor ir embora e faltar alimento”, pontua o psiquiatra
José Rai­mundo da Silva Lippi, coordenador do Am­bu­latório Es­pe­cial de Aco­lhi­men­to
e Tratamento de Famílias Incestuosas (Amefi), do Hospital das Clínicas de BH,
que faz abordagem única sobre o tema. “Este tipo de família é tabu e desperta o
que chamamos de horror universal. Nelas, predomina o instinto e os membros
perderam suas funções.”


Segundo a psicanalista Carolina Nassal Ribeiro, tais comportamentos desviantes trazem possibilidades diversas de danos emocionais para as crianças. Ela frisa a culpa
que sentem os filhos. “O primeiro objeto de amor de uma criança é o pai/mãe.
Ter o órgão tocado proporciona prazer. Quando crescem é que vão exercer a
censura. Pode-se culminar no desenvolvimento de esquizofrenia e abuso de
drogas.”


Não é para menos. As meninas são filhas ou amantes? Uma mãe não deveria proteger? E o pai, não é ele que representa a lei, o limite, o sim e o não? Além da definição
de papéis estas crianças vão perdendo também a saúde, inclusive a mental. De a­cor­do
com Lippi, vítimas de incesto têm o cérebro alterado em sua função e tamanho e
observa-se comportamento de repetição.


Atraso na linguagem e nas funções cognitivas, estresse, encoprese (descontrole dos esfíncteres por razões como medo e ansiedade). A partir da dificuldade em
conter as fezes vem a negativa de comer: perda de peso, desnutrição e anemia.
Tendência à marginalidade e prostituição são consequências que atingem filhos
de famílias incestuosas. As meninas adquirem aparência que os especialistas
chamam de vamp em virtude de sexualização precoce. Suicídio. “É preciso romper
o silêncio”, aler­ta o psicólogo Wolney Lopes, espe­cializado em sexologia pela
Escola de Medicina da USP.


Muitas vezes a própria mãe também não tem identidade, nunca diz não e aceita tudo. Ela somente pariu. Tal pai pode estar agindo por rancor de não ter sido amado no
passado. “Pode ser uma retaliação, fazendo alguém sofrer o que ele sofreu”,
explica Lopes. São muitas as perguntas e o caminho é tentar com­pre­ender as
dinâmicas de cada família. “Em algum momento da vida esta mãe também foi
brutalmente violentada e se uniu a este pai abusador na ilusão de ser amada.”


Mais: é preciso entender o incesto não só como violência física, mas do ponto de vista da saúde. Daí necessidade de tratamento. Falar, falar, falar é o primeiro
caminho. Não há agressor sem agredido. Objeto de uso, sem vontade própria,
quando começam a ser ouvidos – jamais inquiridos – elaborando seus pensamentos
e emoções, vêm as primeiras manifestações de consciência sobre a violência: em
desenhos, os pais e mães ganham chifres de capetas, órgãos sexuais avantajados.
Aparecem figuras eróticas.


“A família vai percebendo sua realidade com outro olhar e cada membro busca se recompor em seus sentimentos, ações, em sua dignidade”, avalia a assistente
social e terapeuta familiar Berenice Nascimento Souza. “A dor destas crianças
após entrarem em processo terapêutico é a dor da alma. Não sabemos como
enfrentarão isto no futuro.” Não há garantias. Surge a revolta: afinal, quem
deveria proteger, abusa. De acordo com o psiquiatra Raimundo Lippi, são feridas
que não cicatrizam. “Mas podem deixar de estar constantemente infeccionadas.”




Raimundo Lippi: feridas que não cicatrizam

http://www.revistaviverbrasil.com.br/materia_01.php?edicao_sessao_i...





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Comentário de ORÁCULO DO DELFUS em 10 julho 2010 às 9:49
este é o pior crime e a vítima é detentora da pior condição psicológica p/ reverter-se p/ um quadro favorável.

tanto pai qto mãe começa muito cedo à abusar d seu filho.

ex. é as tantas notícias; as quais temos conhecimento d q estas mesmas crianças; atingindo certa idade contam narrativas d suas denuncias dos abusos sofridos desde muito criança.
Comentário de ljalmeida (Leandro J. Almeida). em 7 julho 2010 às 14:43
Por acreditar em Família, constitui a minha.
Enquanto acreditava ser muito abençoado por Deus, estava sendo difamanado e incriminado, e meus filhos, ALICIADOS e CORROMPIDOS.

Ainda acreditando em minha família e também em conhecer todos os agressores, me afastei dos mesmo em busca de proteger minha família. Ilusão, tarde demais, descobri que eu abrigava e protegia um deles.

Diante desta realidade, tamanha crueldade e habilidades não são imagináveis por muitos, me desorientei...

Busquei em psiquiatras ajuda para tal pessoa, mas a habilidade foi tanta que fui desacreditado em minha denuncias... depois dado como paixonado, sim, eu esclareço, sou PAIXONADO POR MEUS FILHOS e por eles tendo de tudo nesta vida, eles são a razão de minha existência...

Com mais medo ainda e sem outra saída conhecida, resolvi denunciar (14/12/2008), bobagem, pura idiotice, e eu dizia a meus filhos "vocês vão falar com um adulto que gosta de criança, para eles se queixem, relatem tudo que sofrem, como o papai é rígido, corrige vocês, os coloca de castigo, mas também relatem o porque disto, quem os orienta a agir de maneira corrompida, e quais os atos que ja foram lhe ensiandos...", de nada adiantou, minha filha me respondeu "eles não ligam pai!"...

Intimidado, tive que aceitar conviver na tentativa de conseguir permanecer ao lado de meus filhos, lhes prestando orientação...

Mas a crueldade não tem fim, aqueles que se colocaram como "amigos" a fim de ajudar a salvar minha família... na realidade, somente desejavam saber os meus passos.

E como anuciado por meus filhos, mas inimaginavel por mim, sofro seguidos "acidentes".

Calado, desacreditado, assustado, desorientado, não tenho o que fazer... imploro, suplico, agrado, faço tudo para viver em paz e pedir paz para meus filhos... em vão, estes são implacáveis, querem seus filhos e eu destruido.

Meu pobre filho,que ja conta com 11 anos, não sabe o que fazer, deseja liberdade, mas é intimidado e obrigado a aceitar seu destino...
Minha filha, com 6 anos, não possui capacidade de saber ao que a levam, e vai seguindo as orientações, acreditando no que lhe é falado, mas ainda a pouco tempo atrás, suplicava por mim e socorro.

Eu, fico sem saber, se me afasto, sou um pai que não liga para os filhos, mas se me aproximo, recebo queixas, denuncias de crimes psicológicos e morais, que me tiram o sono e a paz... se grito ao mundo, sou louco e recebo mais ameaças e intimidações...

Assim, estou cumprindo o que chamo de "aviso prévio" do cargo de pai.
Sendo alienado a cada dia...

AS FAMÍLIAS INCESTUOSAS SÃO REALMENTE MUITO ORGANIZADAS e CRUEIS!!!
cuidado com elas...

Por Leandro J. Almeida, um pai com "laudo psiquiátrico" para lhe afastar dos próprios filhos e demoraliza-lo perrante sua corragem de denunciar nomeadamente (passar recibo como eles afirmam), enquando tem em sua casa, outras 4 crianças, que adotei pelo abandono da sociedade...

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