RELATO DE UM ABUSO SEXUAL: SUPERAÇÃO

 

Embora ouça e receba muitos relatos de abuso sexual (crime de pedofilia), normalmente não os publico. Publico este, de uma amiga querida que me escolheu para desabafar. Ela não quer se identificar, mas autorizou a publicação. Recebo suas palavras honrado pela confiança, triste pelo fato em si, mas feliz pela superação demonstrada por ela, refletida em sua dedicação pelas causas sociais, especialmente “Todos contra a pedofilia”. Agradeço a sua contribuição e espero que seu relato seja um alento para todas as vítimas silenciosas. Entendo e admiro o perdão, mas não abdico da punição, nos termos da Lei.

 

Casé Fortes #todoscontraapedofilia

 

“Prezado amigo,

Hoje me sinto livre para fazer relatos do meu passado, sendo remetida à minha infância repleta de cenas que sempre busquei esquecer.

Depois de muitos anos consegui compreender porque a violência sexual infantojuvenil gera as vítimas do silêncio, em especial quando a agressão parte de pessoas tão próximas que deveriam apenas representar proteção integral.

Eu faço parte da estatística de crianças que foram violentadas, uma vez que com apenas 10 anos de idade era submetida à situações íntimas com meu pai.

Como criança não tinha entendimento suficiente para avaliar o que estava acontecendo e, em determinados momentos, achava que aquilo era algo normal. Pensar em dizer não seria o mesmo que deixar de acatar uma ordem do pai, representando atitude de filha desobediente.

Não sei se “alívio” seria a palavra certa, mas quando recebi a notícia em Belo Horizonte de que meu pai havia falecido com apenas 47 anos de idade, apresentei reações diversas como: insegurança por me tornar órfã de pai e tranqüilidade por não ter mais que conviver com o agressor todos os dias. Até hoje minha família ainda pergunta por que não chorei durante o velório dele.

Mas Deus, em sua infinita bondade, me contemplou com o sentimento mais sublime de todos: o perdão.

Nem todas as vítimas conseguem alcançar um estágio tão avançado como o meu, procurando selecionar na lembrança o legado bom que meu pai deixou que foi: honestidade, garra para o trabalho e nunca desistir dos sonhos almejados. Esquecer o que de ruim aconteceu no passado era pra mim sinônimo de sobrevivência.

Talvez seja exatamente por ele colecionar tantas qualidades é que ainda consegui enxergá-lo como um “falso herói”.

Sempre chorei silenciosamente nas madrugadas e, por isso, desenvolvi um processo de insônia que carrego até hoje, sendo parte do saldo negativo da minha infância.

Eu era uma criança triste e séria demais para a pouca idade e só agora compreendo o motivo de tanta seriedade: eu estava fazendo coisas que só era permitido acontecer entre adultos.

Meu pai sentia ciúmes quando algum homem fazia elogios do tipo: sua filha vai dá trabalho quando crescer – vou me candidatar a genro. Ele desejava que eu fosse apenas dele, um ser intocável.

Eu cresci guardando este segredo que se agigantou cada vez mais no meu peito, porém nunca me dominou. Guardar segredo foi um mecanismo que encontrei para esconder a vergonha que sentia e ainda para preservar a imagem de minha mãe. Eu temia que pessoas, ao saber, dissessem coisas como: seu marido precisou deitar com a própria filha porque você como esposa não o satisfazia sexualmente.

Ainda falando em saldo negativo hoje sou uma mulher insaciável no que diz respeito à sexualidade. Alguns podem interpretar como normal, mas sempre me questiono se ser compulsiva neste aspecto tem alguma relação com o passado. A falta de limites pra mim é como resposta pela falta de limites do meu pai que teve a ousadia de me tocar um dia.

Com o passar dos anos fui buscando transformar o passado em algo positivo e acho que isso justifica a minha doação extrema nas causas sociais.

Descobri que no trabalho voluntário eu poderia fazer a diferença e optei por não ficar presa naquele quarto escuro e frio que sempre representou meu algoz.

Desculpe o desabafo, amigo. Escolhi você para falar do meu passado porque tens a capacidade de compreender cada palavra aqui expressada.

Abraços carinhosos”

 

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Comentário de MÁRCIAAMARAL AMARAL CUNHA TOSTES em 9 abril 2014 às 22:41

Querido Casé que maravilha essa pessoa encontrar você, a pessoa mais certa para este desabafo, e ela justamente procurou por você porque ela precisva disso..abri o coação a sua alma e Deus o que fez?

colocou você no caminho dela, ela precisou de seu apoio.Esse relato ´Super importante' pois certamente nesse momento há muitas pessoas que estão aprisionadas numa história assim. Essa amiga é corajosa, vencedora, pois encontrou agora a sua luz através de projetos sociais, isso é divino.Parabéns! Acho extraordinária esta 'Campanha Todos Contra a Pedofilia'. Apoio e divulgo e se precisar de mim, estou `disposiçao para auxiliar a qualquer momento,esteja certo disto.Abração à você. Que NSJC e ÑSra te acompanhe e te guie sempre no caminho do bem.

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